O conforto proporcionado por uma simples
conversa tem gerado alívio às vítimas que procuram os serviços das delegacias
da Capital e, muitas vezes, até ajudado a polícia a descobrir crimes. Essa tem
sido a contribuição dos estudantes de psicologia da Faculdade Cathedral que
fazem estágio na Delegacia da Mulher (Deam), no Núcleo de Proteção da Criança
do Adolescente (NPCA), na Delegacia Geral de Homicídios (DGH) e no Instituto
Médico Legal (IML). No semestre passado, de abril a junho, os estagiários
fizeram 76 atendimentos e 20 estudos de caso.
A ideia do estágio em Psicologia
Jurídica é humanizar os atendimentos feitos nesses locais, fazendo o
acolhimento das pessoas que chegam fragilizadas emocionalmente. “Enquanto a
pessoa vai registrar o Boletim de Ocorrência, o estudante já faz o acolhimento.
Eles colhem dados, conversam com as vítimas, prestando atenção no que estão
falando, de maneira a amenizar o sofrimento delas”, explicou a professora e
psicóloga Maria de Souza Cruz, responsável pela supervisão dos 21 acadêmicos de
fazem o estágio nessa área.
Com mestrado em Teoria e Pesquisa do
Comportamento, a psicóloga instrui os estudantes nos procedimentos do trabalho,
que além de auxiliarem à vítima emocionalmente, eles precisam também ter uma
visão mais apurada para fatos que possa ajudar a polícia a descobrir se o fato
é verdadeiro ou não. “Eles precisam ter uma escuta e um olhar diferenciado,
porque muitas vezes a mulher ou a criança dizem que foram abusadas, quando na
verdade não foram”, comenta.
Além do cuidado emocional e do
colhimento e cruzamento dados que podem ajudar a polícia nas investigações, a
psicologia dentro das delegacias também ajuda a entender comportamentos muitas
vezes incompreensíveis. “Os agentes, por exemplo, às vezes não conseguem
entender porque uma mulher está indo à delegacia registrar boletim de
ocorrência porque apanhou do companheiro pela décima vez e ainda continua com
ele. A psicologia vai descobrir o porquê disso e o fato dela ainda estar com
esse companheiro”, afirma.
Mariana explica que para cada tipo de
público, há uma metodologia diferente. Para os adultos, o método usado é a
conversa com muitas perguntas de forma que se sintam instigados a falar sobre o
fato. “Com as crianças eles dão folha de papel e lápis de cor para que possa
fazer desenho livre. Por meio disso vão trabalhando com a criança para fazer
com que ela relate o acontecido”, disse.
A psicóloga ressalta que os estudantes
fazem muita leitura de textos sobre linguagem corporal e uma vez por semana faz
o trabalho de supervisão com eles. “Peço muito que eles tenham uma escuta
diferenciada e observem o comportamento da vítima, porque muitas vezes o que
ela fala, não condiz com a maneira que ela está se comportando. Tudo que for
diferente a gente tem que observar como o olhar, a fala, o choro”, frisou.
TRABALHO RECONHECIDO - Na Deam e no
NPCA, os acadêmicos fazem o trabalho de acolhimento. No IML eles acompanham o
trabalho de perícia, uma vez que há muitos crimes sexuais. Já na DGH, eles
participam de oitiva para conseguir traçar o perfil psicológico dos homicidas.
“Quando não há ocorrência, as delegadas dão inquéritos para fazerem estudos de
caso”, comenta Mariana.
Por conta dos resultados, os acadêmicos
estão tendo o trabalho reconhecido dentro das delegacias. “As delegadas têm
elogiados o trabalho deles. Na Deam eles já têm uma sala para trabalharem.
Quando eles não estão nesses locais e acontece alguma coisa, a delegada liga,
solicitando a ida deles para lá”, disse. O reconhecimento dessa parceria ajuda
no processo do estágio. “Esse trabalho acaba ajudando a polícia nas investigações
dos casos, principalmente na questão do abuso de crianças. Eles conseguem
detectar quando realmente a pessoa foi abusada e quando não foi”, afirma a
psicóloga.
Para os estudantes, o estágio é a
oportunidade de vivenciar a parte prática do curso. “A gente começa a praticar
as nossas percepções, a observar o comportamento das pessoas porque o corpo
fala, além de contribuir com o trabalho dos agentes”, disse a aluna Maria
Consolata, 45 anos, que cursa o 10º semestre. Após a finalização do estágio, os
alunos fazem relatórios e deixam nas delegacias em que atuaram e na coordenação
do curso de Psicologia.
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